A indústria moderna está em constante desafio: entregar mais confiabilidade, reduzir custos e garantir resultados consistentes em ambientes cada vez mais complexos. A resposta para esse cenário passa pela gestão de ativos bem estruturada, que evolui em maturidade à medida que integra três pilares: método, ferramenta e pessoas. Mas como medir esse avanço? E como, na prática, transformar cada estágio em ganhos tangíveis?
Introdução
Gestão de ativos vai muito além de consertar o que quebrou. Exige visão integrada, disciplina, tecnologia e gente preparada para agir antes dos problemas. Muitos gestores iniciam essa jornada com dúvidas: como saber onde estão e o que fazer para evoluir?
Neste artigo, serão apresentados os conceitos fundamentais da avaliação e do avanço da maturidade em gestão de ativos. Vai ser detalhado o modelo de pilares (Método, Ferramenta, Pessoas) e as três fases típicas de desenvolvimento industrial: Estruturação Básica da Manutenção, Estruturação Avançada com foco em Disponibilidade e Estruturação Excelente com foco em Confiabilidade. Ainda, será mostrada a conexão com os níveis culturais adaptados da Curva de Bradley. Ao final, gestores terão um roteiro prático para colocar esse conhecimento em ação.
Os três pilares da maturidade
Todo progresso sustentável em gestão de ativos se apoia no equilíbrio entre método, ferramenta e pessoas. Não há evolução se um dos pilares fica para trás. Veja o que constitui cada um deles:
- Método (Processos): Diz respeito à existência de processos, rotinas, padrões, fluxos de trabalho, análise de falhas, planos de ação e acompanhamento estruturado na manutenção, operação e suporte.
- Ferramenta (Tecnologia): Envolve sistemas informatizados, sensores, automações, plataformas de monitoramento, dashboards e soluções digitais que oferecem controle, transparência e suporte à decisão.
- Pessoas: Representa as lideranças, capacitação, engajamento do time, alinhamento cultural, comunicação, colaboração e disciplina na execução das rotinas e melhorias.
Quando um dos pilares é negligenciado, limita-se o avanço da maturidade.
Cada pilar é avaliado de forma quantitativa, atribuindo notas de 1 a 5 conforme o grau de desenvolvimento e integração ao negócio.
Notas de maturidade: de 1 a 5
A atribuição de notas traduz, de maneira clara, a situação de cada área:
- Nota 1: Ambiente reativo, liderança fraca, baixo engajamento, falhas de comunicação, tecnologias quase ausentes, processos desorganizados e feitos manualmente.
- Nota 2: Estruturação inicial e frágil, alguma liderança ativa, presença de conhecimentos básicos, poucas tecnologias e sensores, processos cheios de falhas, padrões pouco seguidos.
- Nota 3: Estrutura razoável, liderança funcional, engajamento satisfatório, tecnologia atende ao básico (CMMS, algumas automações), processos definidos e seguidos com certa regularidade, ainda com margens grandes para evolução.
- Nota 4: Organização robusta, liderança sólida, equipe capacitada, cultura positiva, ferramentas modernas e integradas, automação avançada, processos eficientes e padronizados rigorosamente seguidos.
- Nota 5: Excelência. Lideranças inspiradoras, equipes altamente capacitadas, cultura de melhoria contínua, infraestrutura tecnológica de ponta, integração e automação totais, uso intenso de sensores e métodos inovadores.
A nota nunca é um julgamento, é um termômetro para orientar o próximo passo.
A curva de Bradley adaptada à gestão de ativos
Além do olhar quantitativo, a maturidade envolve cultura. A Curva de Bradley, originalmente pensada para segurança, encaixa-se perfeitamente ao avanço cultural da gestão de ativos.
- Nível 1 – Reativo: Pessoas não se sentem responsáveis pelas falhas. Vêem a gestão de ativos como burocracia. Só agem quando acontece o pior.
- Nível 2 – Dependente: O foco está no cumprimento de regras impostas pela chefia. Supostamente, basta seguir as ordens. Autonomia é baixa. Cultura de “culpa do outro”.
- Nível 3 – Independente: O time assume responsabilidade. Busca melhorias. Sente satisfação em evitar falhas. Valoriza e constrói confiabilidade própria.
- Nível 4 – Interdependente: Cultura madura. Colaboração entre áreas. Ações preventivas e aprendizado contínuo. O negócio alcança ganhos reais e duradouros.
A cultura é o motor silencioso que sustenta o desenvolvimento ou trava a evolução.
As três fases de maturidade: estruturando o progresso
O avanço da gestão de ativos industrial pode ser organizado em três fases. Cada uma pede foco diferente em processos, pessoas e tecnologia.
Fase 1: Estruturação básica da manutenção
O início costuma ser caótico. Quebras seguidas, altos custos, informações desencontradas, falta de dados e equipes sobrecarregadas no modo “apaga-incêndio”. O objetivo aqui é construir alicerces.
Nesta etapa predomina a nota 1 ou 2 em todos os pilares. O padrão cultural é Reativo ou Dependente. Os sintomas são fáceis de reconhecer:
- Não há rotina de planejamento. As intervenções acontecem conforme a urgência.
- Registros de falhas são esporádicos e superficiais.
- Uso de tecnologias limitado a equipamentos básicos.
- Pouca clareza nos papéis e responsabilidades.
- A comunicação é ineficaz. Erros e retrabalhos viram regra.
Nessa fase, o esforço deve ser concentrado em:
- Estruturar planos de manutenção minimamente robustos.
- Implementar fluxos claros para solicitações de serviço, registro de falhas e acompanhamento.
- Começar a formar lideranças de campo e conscientizar o time.
- Investir em tecnologia básica: sistemas CMMS simples, iniciação na coleta digital de dados.
- Criar indicadores simples para medir disponibilidade e tempo de resposta.
Sair do reativo não é opcional, mas a base para avançar.
Fase 2: Estruturação avançada com foco em disponibilidade
Com a base organizada, chega o momento de buscar resultados mais consistentes. Sinais de evolução: notas em torno de 2 e 3, passando de Dependente para Independente em alguns pontos. Os resultados passam a surgir.
O planejamento deixa de ser exceção. Passa a haver PCM dedicado e reuniões estruturadas.- Relatórios de falha são realizados de maneira mais detalhada.
- Pessoas começam a propor melhorias e revisões de processos.
- Surgem primeiros investimentos em sensores, diagnósticos automáticos e dashboards básicos.
- Engenharia de manutenção assume papel relevante. Análise de causa raiz entra na rotina.
Os gestores percebem que o sistema responde melhor:
- Quedas de disponibilidade passam a ser monitoradas em tempo real.
- Indicadores ganham espaço nas reuniões.
- Falhas reincidentes têm análise e plano de ação formal.
- Transforma-se a comunicação. Informação vira ferramenta de decisão.
O próximo passo, a partir desse avanço, depende de fortalecer:
- Adoção de sistemas mais integrados (ERP, sistemas mobile para controle de ativos).
- Cultura de melhoria contínua, promovendo autonomia e responsabilização do time.
- Aprimoramento das análises de desempenho de equipamentos.
- Programas estruturados de capacitação e alinhamento entre departamentos.
O salto de qualidade surge quando o time percebe que pode agir antes e melhor.
Fase 3: Estruturação excelente com foco em confiabilidade
A excelência se caracteriza por notas 4 ou 5 em todos os pilares e a cultura já opera no modo Independente ou Interdependente. O ambiente transforma radicalmente.
Uso intenso de sensores e automações avançadas de monitoramento e diagnóstico de ativos.- Processos extremamente padronizados, com foco na inovação e uso racional dos recursos.
- Lideranças são referência, inspiram e capacitam a equipe constantemente.
- Gestão de dados é sofisticada, com indicadores inteligentes guiando decisões estratégicas.
- As pessoas agem preventivamente, trabalham de forma colaborativa entre setores e buscam soluções antes dos problemas chegarem.
Neste nível, a organização atinge resultados sólidos:
- Custo de manutenção sob controle e previsível.
- Disponibilidade e confiabilidade em patamares elevados e constantes.
- Agilidade para responder a mudanças de mercado e novas demandas.
- Cultura de aprendizado contínuo e disseminação das melhores práticas.
Na maturidade máxima, a manutenção não paralisa a produção. Ela impulsiona o negócio para frente.
Modelo aplicado: integrando pilares, notas e níveis para orientar a evolução
O segredo está em usar o modelo de pilares x notas x níveis como ferramenta de diagnóstico e guia para evolução. Essa abordagem ajuda o gestor a responder perguntas fundamentais:
- Onde a empresa está em cada pilar?
- Qual nota obteria? Está mais próxima do reativo, dependente, independente ou interdependente?
- Quais aspectos definem a atual fase de maturidade?
- O que priorizar para subir ao próximo patamar?
O ciclo se repete a cada nova análise, indicando com clareza as prioridades de desenvolvimento.
Exemplo prático: aplicando o modelo na rotina
- O gestor reúne as lideranças, discute honestamente onde estão cada um dos três pilares.
- Para cada pilar, Método, Ferramenta, Pessoas, a nota é atribuída de acordo com critérios e exemplos reais do dia a dia.
- Com as notas, identifica-se o estágio atual (Reativo, Dependente, Independente ou Interdependente).
- Define-se a fase correspondente e, com base nela, as ações prioritárias. Não adianta tentar “fazer tudo ao mesmo tempo”. Cada fase pede desafios e soluções diferentes.
- Estabelecem-se indicadores para monitorar o progresso e revisões regulares do plano de ação.
O objetivo: criar senso de direção e alinhamento, evitando esforços dispersos e aumentando o impacto das iniciativas.
Como priorizar as próximas ações? Um roteiro para o gestor
Dar o próximo passo é sempre resultado de análise e priorização. Veja o roteiro prático inspirado pelas experiências dos profissionais mais assertivos do setor:
- Avalie os três pilares com total honestidade. Use exemplos do dia a dia, sem “maquiar” resultados.
- Pergunte à equipe sobre cultura: ela se reconhece nos níveis reativo, dependente, independente ou interdependente?
- Com base nas notas e percepção cultural, identifique a fase da indústria: Fase 1, 2 ou 3.
- Priorize ações específicas para a fase atual. Se está no reativo, busque primeiro organizar o básico. Se está em fase de disponibilidade, concentre-se em planejamento, tecnologia e padronização.
- Monitore avanços. Pequenos ganhos, bem comunicados, motivam a equipe e firmam a cultura de melhoria contínua.
- Ao alcançar um patamar mais alto, reavalie, redefina prioridades e siga em frente. O ciclo não para.
Os gestores mais eficazes são aqueles que, além de planejar, executam com disciplina, questionam rotinas e celebram cada avanço.
Conclusão
A maturidade em gestão de ativos não resulta de sorte ou de iniciativas isoladas. É consequência de um caminho claro, sustentado por método, ferramenta e, acima de tudo, pessoas preparadas para evoluir sempre. Ao aplicar a lógica de avaliação dos pilares, atribuir notas realistas e compreender o estágio cultural em que se encontra, a indústria constrói um roteiro sólido para crescer.
Maturidade só cresce onde há consciência de estágio, ação disciplinada e vontade de avançar.
Indústrias que investem nessa jornada colhem resultados não apenas em confiabilidade, mas também em clima organizacional, retenção de talentos e reconhecimento no mercado.Perguntas frequentes sobre maturidade de gestão de ativos
O que é maturidade em gestão de ativos?
Maturidade em gestão de ativos é o grau de desenvolvimento e integração dos processos, ferramentas e pessoas envolvidos na administração do ciclo de vida dos ativos industriais. Reflete como a empresa atua na prevenção de falhas, otimização do uso de equipamentos, tomada de decisões baseada em dados e promoção de uma cultura colaborativa e responsável.
Como avaliar o nível de maturidade?
A avaliação é feita atribuindo notas de 1 a 5 para três pilares: método (processos), ferramenta (tecnologia) e pessoas (liderança e cultura). Essas notas são baseadas em critérios claros sobre estrutura, aderência a padrões, uso das tecnologias e grau de engajamento do time. Paralelamente, é importante identificar o estágio cultural, reativo, dependente, independente ou interdependente, para entender barreiras e oportunidades.
Quais os benefícios de avançar a maturidade?
Ao avançar a maturidade, a indústria ganha previsibilidade na operação, reduz custos não planejados, aumenta a disponibilidade dos ativos e cria um ambiente mais seguro e confiável. Outro benefício é a profissionalização da equipe, que passa a atuar de forma mais proativa e alinhada aos objetivos do negócio.
Como implementar melhorias na gestão de ativos?
O gestor deve primeiro avaliar com honestidade seu estágio em cada pilar, identificar a fase da indústria e priorizar ações que geram maior impacto para aquele momento. Exemplos de iniciativas são estruturar rotinas mínimas de manutenção, capacitar lideranças, investir em tecnologia aderente à realidade do time e promover programas de melhoria contínua.
Onde encontrar modelos de avaliação de maturidade?
Existem referências internacionais, como PAS 55 e ISO 55000, que trazem boas práticas e modelos conceituais de avaliação da maturidade em gestão de ativos. Empresas do setor industrial também costumam adotar metodologias próprias, adaptadas às suas realidades, baseando-se nesses referenciais para criar instrumentos de diagnóstico e evolução.


